Lidando com a Inveja nas Redes Sociais

Lucas Wendel
5 min readSep 11, 2017

--

“Inveja”, por Shawn Coss

A inveja é a podridão dos ossos” (Pv14.30)

Antes de começar este texto, o primeiro de uma série sobre a presença dos sete pecados capitais no ambiente virtual, quero estabelecer algumas considerações. A ideia para essa série de textos veio de uma forma incomum. Eu estava visualizando stories no Instagram, um dos meus hobbies favoritos no sábado à noite (acreditem, eu faço muito isso). Enquanto via as fotos de conhecidos aproveitando os bons momentos da vida (ou passando a impressão, nunca se sabe) tive a ideia de fazer um texto sobre como as redes sociais potencializaram a inveja. E quando esboçava a estrutura do texto, pensei “já que irei falar de um pecado capital, porque não trabalho todos? Há material suficiente na minha timeline”.

Tenho quase certeza de que a ideia de usar esta lista de pecados pode gerar alguma espécie de confusão, mas a verdade é que pretendo usa — la porque são os mais evidentes nas mídias sociais. Não porque são de alguma forma mais graves ou mais reprováveis. É importante destacar que, na prática, a ideia de uma “hierarquia” de pecados não faz muito sentido. Embora alguns pecados possam causar um impacto maior na sociedade enquanto outros são mais “socialmente aceitos”, sob a perspectiva divina, tanto um avarento quanto um assassino estão em patamar de igualdade com relação a sua condição de pecadores e dependentes da graça divina.

Por fim, uma última consideração: meu objetivo não é fazer com que as pessoas abandonem as redes sociais. Além de ser uma causa perdida, uma vez que elas vieram para ficar, seria hipocrisia lutar por isto. Esse texto foi escrito em uma rede social e divulgado em outras. E a verdade é que, quando bem utilizadas, as redes sociais são um excelente instrumento. O problema é quando isto não acontece. Infelizmente, pode — se afirmar que o retrato da grande parte dos usuários de redes sociais há uma doença nestas redes. E estes pecados são os sintomas. Isto posto, nada mais justo do que iniciar esta série com a ideia inicial.

Quero começar este texto com um questionamento sincero: Você abre o seu Facebook e depara — se com uma notícia positiva sobre alguém. Uma foto de uma viagem na Europa, uma notificação do seu amigo anunciando a mudança de status de relacionamento para namorando. Qual a sua reação?Sua alegria com o sucesso do outro é realmente genuína? Ou ela serve apenas de fachada para esconder um leve incômodo?

Se a reposta para a última pergunta foi sim, sinto muito: você tem inveja. Mas o que seria isto? Muito mais do que um simples pecado, a inveja é um sentimento antigo. Antes mesmo de Lúcifer rebelar — se contra o domínio celeste, foi preciso que a inveja surgisse em seu âmago. A inveja é herança da natureza adâmica e porta de entrada para outros pecados. Foi necessário que esse sentimento criasse raízes em Caim, antes de assassinar seu irmão Abel.

Entretanto, não podemos confundir o pecado da inveja com a admiração que eventualmente pode surgir ao visualizar a conquista do outro. A diferença crucial pode ser constatada através das reações. O invejoso não consegue manifestar alegria genuína com o sucesso do próximo. A inveja é também uma semente. Em alguns casos, esta semente leva a tentativa de depreciar a conquista do outro, como se isso de alguma forma melhorasse a situação do invejoso. Em casos extremos, este sentimento pode evoluir para algo patológico — não raro o invejoso desenvolve doenças na alma por causa de seu sentimento. Nada de bom advém deste sentimento.

Nas redes sociais, a inveja manifesta — se de forma cega. Cada post é um recorte da realidade: Vemos a foto da viagem, mas não acompanhamos a batalha do viajante nos 12 meses de trabalho para poder desfrutar de forma honesta de um merecido descanso; vemos o status de relacionamento ser atualizado, mas não vemos as dificuldades que o casal enfrentou para cultivar este sentimento. E é por isso que tal sentimento cresce com tanta facilidade. A ideia de que a grama do vizinho, além de ser mais verde, cresce sozinha é extremamente confortável.

E é curioso constatar como esta ideia serve de combustível para as redes sociais. Embora não seja uma lei universal, é preciso reconhecer o outro lado da moeda: há uma indústria da inveja. Busca — se o melhor ângulo da foto, o melhor horário para a divulgação de uma notícia, a melhor legenda, tudo para alcance de maior número de visualizações. Acredito que seja hora de questionar: será que isto é realmente necessário? Causar inveja em alguém influenciará de alguma maneira positiva em minha vida ou apenas revela um aspecto mesquinho da minha natureza? Estou inclinado para a segunda opção.

Depois de toda esta exposição, eis que uma pergunta paira no ar: Como vencer este pecado? A resposta é simples:

a) Saiba esperar. Onde há paciência, a inveja não floresce. Cada conquista vem a seu tempo e a verdade é que alimentar a inveja não fará com que este tempo seja encurtado nem um segundo.

b) Aprenda a aproveitar o que tem. Penso que a inveja tem suas raízes na insatisfação. Não digo que a solução contra a inveja é a adoção de uma atitude passiva, sem nenhum interesse por mudanças ou conquistas, mas sim uma postura de gratidão. Você ficou em casa enquanto todos estão festejando? Aproveite o que tem. É um pouco clichê dizer isto, mas muitos queriam o privilégio de estar em uma casa no sábado à noite. Não é preciso fazer muito esforço para olhar à sua volta e encontrar motivos para agradecer.

c) Aprenda a alegrar — se com o sucesso do outro. Empatia é um poderoso antídoto contra a inveja. Infelizmente, para todos os efeitos, isto é mercadoria em falta. Porém a boa notícia é que tanto a empatia quanto a gratidão não são atributos exclusivos de uma casta superior de seres humanos. Todos podem e devem cultivar estes sentimentos no dia a dia.

A luta conta a inveja não é ganha do dia para a noite. Mas é preciso persistência. Uma vez que este sentimento nefasto é erradicado, aproveitar todos os bons momentos torna — se uma atividade extremamente mais fácil.

--

--

Lucas Wendel
Lucas Wendel

Written by Lucas Wendel

Cristão. Casado. Pai. Nas horas vagas sou advogado, pós graduado em Ciência Política e estudante de Teologia.

No responses yet